No São João da Capitá, chuva rima com animação e axé combina com forró ~ Os Olhas_Videos

domingo, 12 de junho de 2011

No São João da Capitá, chuva rima com animação e axé combina com forró

Com seus hits à prova d’água, Chiclete com Banana e Aviões do Forró conseguiram fazer o público cantar e dançar sem parar, ignorando a chuva que não deu trégua na 2ª noite da festa


Adolescentes, adultos e idosos. Solteiros, namorados e casados. Heterossexuais, gays e transexuais. Da camisa quadriculada à camisa florida, passando pela calça colorida. Do chapéu de couro tipo cangaceiro ao tipo vaqueiro, sem esquecer o boné e a boina. Gente de todos os estilos, tribos e idades lotou a área externa do Chevrolet Hall e o pavilhão do Centro de Convenções na noite do último sábado (11) e na madrugada deste domingo (12). O que levou milhares de pessoas a sair de casa apesar da chuva forte? O São João da Capitá, um evento que cresceu tanto que já não há como negar: sua popularidade é tão consolidada que o seu sucesso até à prova d’água é.

Após o cantor Geraldinho Lins abrir a programação da última noite do festival, foi a vez de uma das principais atrações de toda a festa subir ao palco. “Quem é aviãozeiro aí?”, perguntou o vocalista do grupo Aviões do Forró preparando a plateia para o que viria a seguir: mais de uma hora só com os hits da banda. Com músicas de refrão fácil (“Vai a pé, vai a pé, sem dinheiro e sem mulher” e “Eu queria um homem para dar lipo e silicone”) em ritmo alegre, o grupo não demorou a transformar a área externa do Chevrolet Hall em um grande salão de dança. Antes de se despedir e ir para Gravatá, onde faria um show logo em seguida, a banda viu o público cantar (e dançar junto) sucessos recentes do grupo, como a versão em forró do brega pernambucano “Meu novo namorado” (“Pensou que eu ia chorar por você, que eu ia morrer de amor”) e a versão da música “Umbrella”, da cantora Rihanna, que, em português, recebeu o refrão “Eu amo você, mas, se não valorizar, vai me perder”.

Com dois palcos principais, o intervalo entre uma atração e outra ficou menor. Por isso, não demorou muito e logo a banda Magníficos iniciou a sua apresentação. Cantando dores de cotovelo que fizeram sucesso na década de 90 (“Apaixonada, sofro calada, tudo fica mais difícil sem você”), a banda mostrou que o forró é das antigas, mas a boa recepção do público continua em dia. O show do grupo abriu espaço ainda para hits de outros estilos musicais, como o pagode (na versão de “Tá vendo aquela lua”, do Exaltasamba) e o pop sertanejo (ao cantarem “Amar não é pecado”, de Luan Santana).

Enquanto isso, na Sala de Reboco, o forró pé de serra animava aqueles que queriam se divertir, mas protegidos da chuva. Cezzinha foi uma das principais atrações do espaço e subiu ao palco montado no pavilhão do Centro de Convenções logo depois de Cristina Amaral, Biliu de Campina e Eliane. O cantor-sanfoneiro apresentou um repertório cheio de referências espaciais (“Todo tempo quanto houver pra mim é pouco pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco”) e temporais (“Eu só quero um amor que acabe o meu sofrer”), embalando as primeiras horas do Dia dos Namorados. Antes de deixar o palco para as apresentações seguintes — de Petrúcio Amorim, Amazan e Nádia Maia —, Cezzinha ainda prestou um tributo a Nando Cordel, o homenageado do São João da Capitá, cantando as músicas “Você endoideceu meu coração” e “Gostoso demais”.

Na área externa, os fãs de Chiclete com Banana já não conseguiam controlar a ansiedade para o show que viria em seguida. “Se Chiclete tivesse tocado, eu já teria ido embora”, afirmou o administrador Josenildo Melo, 45 anos, 29 destes de paixão pelo grupo. Ele gosta tanto da banda que, sempre que vai ao show, leva um estandarte com vários discos de Chiclete com Banana, desde a década de 80. “Todo show de Chiclete esse cara está”, cochichou um rapaz para a namorada, ao vê-lo com o seu estandarte no meio do público. Entre uma foto e outra com alguns fãs da banda, Josenildo falou da sua paixão por Bell Marques e cia. “É uma razão de viver, uma emoção mesmo. Já fui até para shows em cidades de outros estados, como Salvador, Natal, Maceió e Campina Grande”, contou.

Por volta das 1h40, as cortinas se abriram e Josenildo e milhares de outros fãs saciaram a fome de Chiclete com Banana, o prato principal da segunda noite do São João da Capitá ou até mesmo de todo o evento. “Chicleteiro eu, chicleteira ela...”, cantava Bell Marques, tendo a voz uníssona de toda uma multidão a acompanhá-lo logo na primeira música. E a cena se repetiu durante todo o show. O público cantava religiosamente, como uma oração mesmo, os sucessos do grupo, que têm o nome da banda onipresente nas letras (“Chiclete... oba, oba! Quero Chiclete, Chiclete...” e “Vem bananear eô... Vem bananear êa...”, entre outros exemplos).

No meio do show, antes que o São João se transformasse de vez em um Carnaval fora de época, o grupo tratou de tocar alguns forrós, como 'Forró no escuro', de Luiz Gonzaga, com seu refrão fácil de cantar junto: “O candeeiro se apagou, o sanfoneiro cochilou, a sanfona não parou e o forró continuou”. Mas continuou não. Duas músicas depois, o axé voltou à tona, para alegria do público, que cantava mais alto que o vocalista do Chiclete

A banda Cavaleiros do Forró fechou a programação da festa e subiu ao palco principal por volta das 3:30. O início do show ignorou o fato de ser Dia dos Namorados e tratou logo de consolar quem estava solteiro, com vários hinos de autoestima para os não comprometidos. “Eu tô solteiro, tô feliz, tô sorrindo à toa, tô do jeito que eu sempre quis” e “Nunca mais eu vou chorar, nunca mais eu vou sofrer, quem quiser gostar de mim se prepare para sofrer” foram apenas alguns exemplos.

E a festa continuou praticamente até o sol aparecer, contrariando a vontade do público, que — estivesse no palco principal, na Sala de Reboco, na Tenda Universitária ou no palco dentro do Chevrolet Hall — tentavam evitar o iminente fim. Afinal, o que viria em seguida era a volta para casa com aquele nada saboroso gosto de “Quarta-feira de Cinzas” em pleno junho.

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